Assim como as palavras "garra, determinação, raça, ética e trabalho", cantadas pelos 909 alunos na canção do Colégio Militar de Santa Maria (CMSM), a acessibilidade faz parte da missão e do lema da instituição. Há cinco anos, o comando investe em rampas, corrimãos, banheiro adaptado e atendimento especializado a Pessoas com Deficiência (PcD).
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Junto a isso, conforme o coronel Gérson Ávila, comandante do colégio, o CMSM já se prepara para receber estudantes com outras necessidades além das motoras, como deficiência visual, de fala e de aprendizagem:
- Esse trabalho se faz com a família, é uma parceria. O objetivo é que todo o nosso pessoal esteja preparado para receber alunos com condições especiais.
Em 2020, ao saber da possibilidade de ingressar em uma escola militar por concurso, o estudante Guilherme Rech, 11 anos, dedicou-se a conquistar uma vaga. A prova de alta concorrência seria o primeiro desafio para ele, que tem dificuldades motoras, realizar este sonho. Segundo a mãe, a educadora especial, Andréia Rech, 41 anos, Guilherme nasceu com displasia diastrófica, doença rara relacionada ao nanismo. Desde então, ela e o marido, o engenheiro eletricista Cassiano Rech, 43, iniciaram o tratamento do filho com especialistas.
Guilherme ingressou em janeiro, no 6º ano, sendo o segundo aluno PcD no local. Já nas primeiras semanas, ele nota as diferenças na rotina. Agora, tem que acordar mais cedo:
- Meus amigos me ajudam com alguma dificuldade, como carregar a mochila. Se eu derrubo o lápis, pegam para mim.
Conforme Andréia, desde a primeira prova, o filho é acompanhado pelo major Márcio dos Reis Cardoso, chefe do Núcleo da Seção de Atendimento Educacional Especializado do CMSM.
- Guilherme fez cursinho e, em casa, estudava através de provas anteriores. A escola nos dá todo suporte que precisamos. Desde que ele entrou no CMSM, vimos que está em boas mãos.
Bastante comunicativo, algumas das vontades de Guilherme é ser jornalista esportivo. Entre os profissionais que admira, estão Paulo Antunes e Guerrinha.
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Anselmo Cunha (Especial)
Guilherme Rech está no 6º ano do ensino fundamental e ingressou no CMSM em 2021
SUPERAÇÃO
Estudante do 9º ano, Ricardo Heming Schneider, 14 anos, está no Colégio Militar há três. Cadeirante, ele também conta com todos os recursos necessários para a locomoção. O amor do estudante pelo sistema militar de ensino vem de família. O avô, o pai e o irmão também têm história no corpo de alunos.
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Para o pai de Ricardo, o militar Giovanni Schneider, 48 anos, quando o filho perdeu os movimentos das pernas, aos 7 anos, vê-lo no colégio militar parecia um sonho impossível.
- A história de uma menina cadeirante em Brasília nos acendeu a esperança que precisávamos. No CMSM, ele é o primeiro nas mesmas condições - conta.
Schneider é grato ao coronel Camerino, ex-comandante do CMSM, e à Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial (Depa), que não mediram esforços para receber Ricardo com toda a acessibilidade necessária:
- Fico emocionado, também, com o cuidado que ele recebe dos colegas, que chegam a disputar para acompanhá-lo.
Conforme o pai, o estudante recebe as instruções da mesma forma que os outros alunos.
- Ele adora o colégio, é bem cuidado e passa rodeado pela turma. Só temos a agradecer.
Segundo a bancária Rosélis Heming Schneider, 47 anos, mãe de Ricardo, a preparação para recebê-lo foi uma parceria entre escola e família. Aos poucos, o colégio adaptou o que faltava:
- Antigas rampas foram reformadas e novas construídas. Ele tem tudo o que precisa lá.
Para o estudante, o dia a dia no colégio é "de boas":
- "Na real", é tudo normal. Faço educação física e participo das formaturas. Tinha uma parte do chão que era esburacada, mas foi arrumada e, agora, percorro tudo com facilidade.
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ACESSIBILIDADE
Os dois alunos são auxiliados por soldados que o acompanham em todas as rotinas militares. As rampas foram recondicionadas e o piso alinhado para facilitar a movimentação deles.
De acordo com o major Márcio, o colégio oferece, ainda, ensino suplementar, na sala de recursos multifuncionais:
- A ideia é melhor supervisionarmos o desenvolvimento e focarmos em áreas que o aluno demonstra dificuldades.
Segundo o oficial, Ricardo (aluno H. Schneider) participa, de forma adaptada, das atividades físicas. No caso do Guilherme, ainda será feito um Plano Educacional Individualizado (Pei), onde ficarão definidos parâmetros conforme as possibilidades dele:
- Os colegas se sentem motivados ao ver o H. Schneider na educação física. Com o Guilherme será da mesma forma. Outras mudanças devem ocorrer, como a aplicação de piso tátil e adaptações para leituras em braile.
Para Andréia, o CMSM é o local adequado para o desenvolvimento de Guilherme:
- A escola não nos recebeu com assistencialismo. Pelo contrário, tem sido geradora de oportunidades para o meu filho.
*Colaborou Gabriel Marques